Uma leoa, lá em casa

30 de julho de 2012

Não optei por fazer Medicina ao acaso. Além de amar o Direito, e tudo que a ele se relaciona, nunca fui afeito a presenciar sangue e incisões nem conviver com o ambiente hospitalar. Confesso que ter frequentado, durante um ano, a disciplina de medicina legal, com visitas a necrotérios, não foi uma das experiências acadêmicas mais divertidas do curso. Por isto, dou graças a Deus por me ter dado outros talentos. E mais graças ainda por haver dado a outras pessoas o talento de servir à medicina.

Desde o início da gestação da Renata, estive reticente em acompanhar o parto do meu filho Gael Ryu Junji Abe pelas razões já descritas. Apesar dos pedidos incessantes vindos da minha mulher, mãe, irmãs e sogra, mantinha-me firme na minha decisão. Mas, chegado o dia 24/07/12, fui tomado muito mais por um espírito de responsabilidade (de pai e marido) do que coragem. E, sem perceber, acabei levado a vivenciar alguns momentos tão valiosos de que jamais me esquecerei.

Lembro-me de ter entrado tranquilo na sala de parto, apesar das observações do meu sogro e da médica obstetra de que eu estaria pálido. A partir do instante em que me instalei na sala, para minha própria surpresa, meu coração passou a bater mais calmamente. Todo suor que lavava minha testa e mãos foram drenados imediatamente. A insegurança da longa jornada entre Mogi e São Paulo deu lugar ao entusiasmo, e ao desejo de transmitir a minha mulher total serenidade para os momentos ainda mais tensos que viriam. Foram duas horas de espera e ansiedade da minha parte. Duas horas de muito trabalho por parte da equipe médica. E duas horas em que pude admirar a bravura, resignação e valentia de uma mãe que se esforçava, a cada contração, para fazer valer o parto normal. No fim, apesar de todo o esforço empreendido, a equipe médica achou por bem realizar a cesárea para evitar maiores sofrimentos ao bebê.

Tenho convicção de que o homem não seria capaz de dedicar tamanha energia, por tanto tempo, para o parto normal. Também não acho que o homem seria capaz de, mesmo após tanto esforço, com a dor de uma cirurgia, o cansaço decorrente do trabalho de parto e os efeitos de uma noite não dormida, de acordar a cada três horas para amamentar. Igualmente, não creio que o público masculino pudesse suportar os meses de gestação, sem negligenciar as atividades profissionais nem as tarefas domésticas. Ou até, de ficar mais de ano abstêmio, sem poder tomar a sua cervejinha, para preservar a saúde do bebê. Afinal, durante o período gestacional e na amamentação não é indicado o consumo de bebidas alcoólicas. Definitivamente, só a mulher tem esse vigor, essa determinação, essa devoção. Sim, porque a mulher é única. Ela é a mãe da vida.

Dizem que as mães ganham a força de dez homens quando o objetivo é defender sua prole. Que elas viram verdadeiras leoas quando o assunto é cuidar dos seus filhotinhos. Eu não tenho dúvidas. Na minha casa, ruge uma leoa!