Mito ou venda de…

Artigos | 14 de março de 2019

Um trocadilho com o termo: “Mito ou Verdade?”; e, qualquer outra justificativa fará com que a “emenda saia pior que o soneto”.

Quero dizer que, por vezes, o que imaginamos, pensamos, ou concluímos não sai exatamente como desejávamos. Ou pior, pode perfeitamente estar sendo influenciado por alguém, por algo, e hoje em dia até pelos tais algoritmos que controlam o conteúdo que lemos nos sites e redes sociais. Mas também, além da intromissão externa, somos conduzidos por pré-conceitos, pré-julgamentos e falsas premissas.

Um exemplo é o debate fervoroso envolvendo o uso e consumo de produtos sustentáveis. Carros elétricos no lugar de veículos à combustão, ou sacos de papel em relação aos sacos plásticos. Qual é menos poluente? Qual deles é amigo do meio ambiente?

A resposta parece óbvia. Naturalmente somos levados a responder que o veículo elétrico é menos poluente que o veículo movido à combustível fóssil (gasolina) ou até renovável (etanol). Assim como neste mundo atual, parece que todo mundo elegeu o plástico como inimigo número um da natureza, cuja guerra foi iniciada contra as garrafas PET, depois passamos pelas sacolinhas de supermercado, e hoje, o grande mal da humanidade é o canudinho.

Creio que devamos ter cautela com as escolhas que fazemos, ou melhor ainda, é imperioso que façamos o devido juízo de valor, providos de todas as informações alcançáveis, e sempre pôr em dúvida aquilo que nos é apresentado como sendo a solução para as nossas condutas ambientalmente insustentáveis.

Os veículos elétricos podem ser mais limpos se considerarmos as emissões atmosféricas e os impactos ambientais gerados pela poluição do ar, mas e quanto ao descarte ou durabilidade das baterias, hoje confeccionadas com metais pesados, e que também possuem grande potencial de impacto negativo seja com relação à contaminação do solo ou no lençol freático, quando descartados indevidamente?

A mesma dúvida podemos fazer pairar sobre o vilão da nossa história recente de alto consumo: o saquinho de supermercado. Estudos indicam que é necessário 4 vezes mais energia para fabricar um saco de papel se comparado com o plástico, e no seu processo de fabricação é usado uma quantidade maior de produtos químicos. Além disso, sacolas de papel são menos duráveis e mais pesadas, e hoje sabemos o custo que a logística gera no valor final dos produtos que consumimos.

Enfim, ao educarmos nossos filhos, assim como fomos educados, nos deparamos com inúmeras “falsas verdades” e passamos as desinformações adiante, de geração após geração. O mercado possui seus interesses. Os governos as suas políticas. A população as suas necessidades. E cada um de nós precisamos separar o mito da verdade, fazendo as nossas escolhas com fundamento no conhecimento, e não sob a força de interesses comerciais.

Juliano Abe, vice-prefeito de Mogi das Cruzes, é advogado pós-graduado em Direito Ambiental pela USP e consultor em meio ambiente com especialização em Gestão Ambiental e Sistemas de Gestão Integrada