A Zika do clima

Artigos | 4 de janeiro de 2016

Muito temos ouvido falar sobre a febre transmitida pelo vírus Zika, que nada mais é do que uma doença viral aguda, transmitida por mosquitos, como o Aedes aegypti, que já é antigo conhecido da sociedade por ser um vetor de transmissão da Dengue. Pois bem. Antes de nos alardearmos sobre mais uma doença a ser controlada em nosso meio social, devemos pensar na origem de tudo isso. Por que antigamente não tínhamos registros de tantos casos dessas doenças transmitidas por mosquitos?
Primeiramente, precisamos observar os fatores ambientais que podem ser os agentes que explicam a proliferação dos vetores. De alguma forma, as condições climáticas que vivenciamos colaboraram com o aumento dos transmissores. Possivelmente, o aumento das temperaturas, somada à ausência de chuvas em determinadas localidades, com acúmulo de água em situações adversas e até mesmo com as vestimentas mais leves que deixam a pele mais exposta durante o verão podem ser fatores que ocasionam tal aumento.
Por isso, temos que pensar nos programas de controle da dengue, com uma análise mais profunda das ações públicas. As atividades visam o controle dos mosquitos imaturos, muitas vezes tendo como base a participação popular no manejo ambiental e redução de focos que servem como criadouros de mosquitos. Mas muito além do controle vetorial, precisamos pensar em novas tecnologias que se adequem às novas realidades epidemiológicas, pois é sabido que o mosquito está cada vez mais resistente aos pesticidas que são utilizados.

Paralelamente a isso, o clima não deve sair de foco. É ele quem dá as diretrizes para o sucesso ou fracasso das iniciativas e é protagonista na luta contra os vetores de transmissão de doença. Durante a COP-21, muito se falou em metas de cada País para reduzir a temperatura. Mas não bastam apenas percentuais a serem perseguidos, é preciso pensar o clima de uma maneira muito mais ampla.

Ao meu ver, o assunto principal a ser debatido quando falamos do clima é a produção de energia, cujas matrizes energéticas são prioritariamente calcadas em fontes não-renováveis, como o petróleo. São matrizes poluentes que precisam ser repensadas para que nosso debate sobre a geração de energia e, consequentemente, o clima global, possa ser efetuado de maneira adequada.
Portanto, o que podemos concluir é que todos os temas relacionados ao meio ambiente em que vivemos estão correlacionados. Com a instabilidade e descontrole climático, somados à produção de energia elétrica de matriz poluente e finita, temos um cenário propício para o surgimento de vetores como o Aedes aegypti, que vem se desenvolvendo para se manter vivo em nosso cotidiano. E nós, como sempre, estamos correndo atrás para remediar o que é possível.

Juliano Abe, vice-prefeito de Mogi das Cruzes, é advogado pós-graduado em Direito Ambiental pela USP e consultor em meio ambiente com especialização em Gestão Ambiental e Sistemas de Gestão Integrada